Localizada a 120 km de Salvador, o município de Cachoeira,
com 31.630 habitantes, possui uma economia baseada nas culturas da
cana-de-açúcar, mandioca e fumo, devido ao clima e solo favoráveis à produção
agrícola. No início do século XX a economia de Cachoeira entrou em
declínio e só começou a se recuperar no final do século, com a instalação de
algumas empresas na região. Em 2006, o município ganhou uma atenção especial do
Estado, através de programas e ações que visam resgatar o desenvolvimento
econômico, com investimentos na geração de renda e emprego, com incentivo aos
serviços e comércio ligados ao turismo.
Outro destaque refere-se à implantação de um campus da Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), que viria a provocar um forte impacto na
vida econômica e sociocultural do município.
De acordo com o gerente do Supermercado Pereira, João José,
a implantação da universidade no município não movimentou, nem expandiu por
completo a economia. Ele assegura que no ramo supermercadista nada mudou, pois
a maioria dos estudantes traz das cidades de origem os produtos para suprir as
necessidades básicas, deixando de injetar dinheiro na economia da cidade. João
acredita que para os bares e algumas lanchonetes da cidade tenha mudado alguma
coisa, pois são ambientes muito frequentados por jovens.
FALTA INTERAÇÃO
Fernando Pereira, prefeito de Cachoeira, afirma que foi
muito importante para o município a implantação do Campus da UFRB, mas acredita
que os estudantes poderiam interagir um pouco mais com a comunidade local. Quanto
às mudanças econômicas, acredita que não foram muito significativas para o
município por tratar-se de uma população fluida, que não se fixa no local.
Questionado se houve um aumento nos repasses dos governos
federal e estadual para a cidade, o prefeito responde que não e afirma o
seguinte: “Com a chegada da UFRB no município houve um aumento nas despesas da
cidade, como nos serviços de saúde e limpeza pública, entre outros. E essa
população que está apenas de passagem pela cidade não movimenta a economia de
uma forma considerável. Mas não podemos deixar de lado a importância da
universidade para a cidade, porém volto afirmar que os estudantes e faculdade
deveriam interagir mais com a comunidade local”.
O comércio na feira livre da cidade também é muito importante
e movimenta a economia da cidade. Railda, feirante local, diz que os estudantes
não são frequentadores da feira e acredita que a chegada dos estudantes à
cidade não trouxe desenvolvimento econômico. Todos os comerciantes locais, de
modo geral, consideram que a implantação da UFRB não trouxe desenvolvimento
para economia, mas em sua maioria, declaram o aumento da criminalidade e do uso
de drogas no município.
O governo da Bahia tem trabalhado com projetos para
revitalização de alguns centros no interior do Estado, porém, mesmo com a
chegada da UFRB, Cachoeira ainda não deslanchou economicamente. A cidade é
muito rica culturalmente e, para expandir economicamente se faz necessário
usufruir das riquezas que tem, com a construção de hotéis, pousadas e
restaurantes para atender a demanda de turistas. E, paralelo a isso, com a geração de empregos
para a comunidade local, que apostava no crescimento da cidade com a chegada da
universidade.
Com a chegada dos novos moradores (professores, alunos e
funcionários), houve uma desestruturação do cotidiano da população cachoeirana
e se observa uma exclusão de parte da comunidade, ou seja, a universidade
instalou-se na cidade, mas poucos moradores locais conseguem ingressar nela.
Assim, ocorre uma exclusão, uma rejeição dos moradores da cidade para com os
estudantes, que passam a enxergá-la de maneira preconceituosa.
A implantação do Centro de Artes, Humanidades e Letras
(CAHL) em Cachoeira faz parte de um projeto de modernização da estrutura
econômica, ou seja, a busca por desenvolvimento regional no interior baiano.
Desenvolvimento este que não ocorreu e que tem provocado muitos conflitos, pois
o crescimento da cidade almejado pelo Estado e pela população não foi alcançado.
O que tem crescido muito, segundo os cachoeiranos entrevistados, são a
violência e o consumo de drogas.
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