quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Cachoeiranos questionam efeitos da UFRB na economia local

POR EDNEIA DE JESUS

Localizada a 120 km de Salvador, o município de Cachoeira, com 31.630 habitantes, possui uma economia baseada nas culturas da cana-de-açúcar, mandioca e fumo, devido ao clima e solo favoráveis à produção agrícola. No início do século XX a economia de Cachoeira entrou em declínio e só começou a se recuperar no final do século, com a instalação de algumas empresas na região. Em 2006, o município ganhou uma atenção especial do Estado, através de programas e ações que visam resgatar o desenvolvimento econômico, com investimentos na geração de renda e emprego, com incentivo aos serviços e comércio ligados ao turismo.  Outro destaque refere-se à implantação de um campus da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), que viria a provocar um forte impacto na vida econômica e sociocultural do município.

Com a chegada dos estudantes ao município, supõe-se ter havido uma mudança considerável na economia da cidade. Porém, essa mudança, além de não ter sido ainda devidamente estudada, não é perceptível em todos os segmentos. O ramo imobiliário cresceu muito, o que provocou um aumento excessivo no preço dos alugueis. Já o comércio da cidade parece não ter acompanhado o mesmo desenvolvimento.

De acordo com o gerente do Supermercado Pereira, João José, a implantação da universidade no município não movimentou, nem expandiu por completo a economia. Ele assegura que no ramo supermercadista nada mudou, pois a maioria dos estudantes traz das cidades de origem os produtos para suprir as necessidades básicas, deixando de injetar dinheiro na economia da cidade. João acredita que para os bares e algumas lanchonetes da cidade tenha mudado alguma coisa, pois são ambientes muito frequentados por jovens.

FALTA INTERAÇÃO
  
Fernando Pereira, prefeito de Cachoeira, afirma que foi muito importante para o município a implantação do Campus da UFRB, mas acredita que os estudantes poderiam interagir um pouco mais com a comunidade local. Quanto às mudanças econômicas, acredita que não foram muito significativas para o município por tratar-se de uma população fluida, que não se fixa no local.

Questionado se houve um aumento nos repasses dos governos federal e estadual para a cidade, o prefeito responde que não e afirma o seguinte: “Com a chegada da UFRB no município houve um aumento nas despesas da cidade, como nos serviços de saúde e limpeza pública, entre outros. E essa população que está apenas de passagem pela cidade não movimenta a economia de uma forma considerável. Mas não podemos deixar de lado a importância da universidade para a cidade, porém volto afirmar que os estudantes e faculdade deveriam interagir mais com a comunidade local”.

O comércio na feira livre da cidade também é muito importante e movimenta a economia da cidade. Railda, feirante local, diz que os estudantes não são frequentadores da feira e acredita que a chegada dos estudantes à cidade não trouxe desenvolvimento econômico. Todos os comerciantes locais, de modo geral, consideram que a implantação da UFRB não trouxe desenvolvimento para economia, mas em sua maioria, declaram o aumento da criminalidade e do uso de drogas no município.

O governo da Bahia tem trabalhado com projetos para revitalização de alguns centros no interior do Estado, porém, mesmo com a chegada da UFRB, Cachoeira ainda não deslanchou economicamente. A cidade é muito rica culturalmente e, para expandir economicamente se faz necessário usufruir das riquezas que tem, com a construção de hotéis, pousadas e restaurantes para atender a demanda de turistas.  E, paralelo a isso, com a geração de empregos para a comunidade local, que apostava no crescimento da cidade com a chegada da universidade.

Com a chegada dos novos moradores (professores, alunos e funcionários), houve uma desestruturação do cotidiano da população cachoeirana e se observa uma exclusão de parte da comunidade, ou seja, a universidade instalou-se na cidade, mas poucos moradores locais conseguem ingressar nela. Assim, ocorre uma exclusão, uma rejeição dos moradores da cidade para com os estudantes, que passam a enxergá-la de maneira preconceituosa.

A implantação do Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL) em Cachoeira faz parte de um projeto de modernização da estrutura econômica, ou seja, a busca por desenvolvimento regional no interior baiano. Desenvolvimento este que não ocorreu e que tem provocado muitos conflitos, pois o crescimento da cidade almejado pelo Estado e pela população não foi alcançado. O que tem crescido muito, segundo os cachoeiranos entrevistados, são a violência e o consumo de drogas.  

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