POR LUCAS SANTOS
No dia 1º de outubro de 2011, estudantes da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) decidiram em assembleia geral paralisar todas as atividades acadêmicas e administrativas da instituição. Rose Cerqueira, aluna do quarto semestre de Jornalismo, define assim os motivos da paralisação:
“Os estudantes estavam fartos de não participarem das decisões da Universidade. Não estávamos bem representados e, portanto, resolvemos agir diretamente, dizer aquilo que queríamos dizer e cobrar aquilo que queríamos cobrar”.
Os problemas da UFRB arrastam-se desde 2008, quando houve a primeira paralisação. Os alunos, naquela ocasião, lutavam pelos mesmos motivos: falta de acervo bibliográfico básico e de restaurantes universitários; precariedade das residências universitárias. Reivindicam melhor infraestrutura, laboratórios, auxílios permanência, etc. Estas reivindicações foram todas dialogadas após a paralisação de 2008 e quase nada foi feito, posteriormente. Por isso optaram por outra paralisação.
INCOERÊNCIAS
O estopim para que a paralisação fosse realmente concretizada foi o anúncio da construção de um novo campus da UFRB em Feira de Santana, segunda maior cidade da Bahia, localizada a 46 quilômetros de Cachoeira. Os estudantes alegam, dentre outras coisas, que Feira de Santana não está localizada no Recôncavo, e sim no agreste baiano.
Acredita-se que o fato dela possuir o segundo maior colegiado eleitoral da Bahia influenciou na sua escolha, em detrimento de Santo Amaro da Purificação, primeira cidade a reivindicar uma universidade no Recôncavo.
A revolta estudantil expressou-se também essa pergunta: Como não há dinheiro para fazer restaurante e residências universitárias, mas há para construir um novo campus?
As aulas da Universidade, que tinham começado há apenas duas semanas, foi interrompida pelo movimento estudantil que se autodenominou: #PARALISARPARAMOBILIZAR. Os quatro campis da UFRB: Cruz das Almas, Cachoeira, Santo Antônio de Jesus e Amargosa foram “interditados” pelos estudantes.
A Universidade tornou-se praticamente a casa deles, pois dormiam e faziam as refeições na instituição. Durante todas as noites aconteciam plenárias que tinham como objetivo deliberar as ações do dia e até mesmo da semana, como também construir as pautas de reivindicações para a Reitoria.
Apos dez dias de paralisação os estudantes do Centro de Artes Humanidades e Letras (CAHL) foram, em sua maioria, para o centro administrativo da UFRB, que fica em Cruz das Almas. Durante esse período ocorreu naquele campi a Reunião Anual de Ciência, Tecnologia, Inovação e Cultura no Recôncavo da Bahia (I Recitec) que já estava programada antes da paralisação.
Com o intuito de paralisar as atividades administrativas, um grupo de estudantes, em sua maior parte de Cachoeira, foi até a garagem da Universidade e esvaziou os pneus de cerca de 50 carros, ônibus, caminhões e vans.
NEGOCIAÇÃO
A organização foi fundamental nesse processo de paralisação. Os estudantes dividiram-se em brigada de alimentação, responsável por fazer as refeições; brigada de segurança, para vigiar a Reitoria durante a noite e por acordar os demais estudantes; brigada de comunicação, para emitir notas e manter o dialogo com a comunidade e a administração da universidade; brigada de cultura, para organizar eventos, manifestações, protestos, filmes, documentários para debate e ajudar a brigada de finanças, responsável por arrecadar dinheiro ou alimento em feiras, mercados e lojas para alimentação dos ocupantes.
Depois de muito desgaste, foi marcada a primeira reunião com a Reitoria e os diretores dos centros. Em plenária deliberativa foram escolhidos oito estudantes – dois de cada centro – para representação da categoria na mesa de negociação.
A primeira mesa de negociação ocorreu cerca de 20 dias após a ocupação e foi tranquila visto que não houve alterações de ambas as partes. Entretanto, a segunda mesa de negociação foi totalmente conturbada. A mesa de negociação foi suspensa por parte da Reitoria que buscou outros mecanismos para driblar essa situação. A reintegração de posse passou a ser levantada como solução para o impasse.
A tensão era tamanha que certa vez a brigada de segurança acordou os estudantes com uma sirene de policia. Foi um vendaval, era estudante correndo de um lado para o outro, arrumando a mochila, gente pulando a janela, quando perceberam era só uma brincadeira.
Nesse clima conturbado, estudantes que não apoiavam a paralisação fizeram abaixo assinados e até mesmo uma reunião improvisada no campus de Cruz das Almas, com um grupo estudantil intitulado #MOBILIZARPARASOLUCIONAR.
CONFRONTOS
Alguns dias após essa reunião dois alunos que eram contra a greve tentaram quebrar os cadeados do Pavilhão de Aula. Alguns alunos saíram da Reitoria para impedir esta ação. No mesmo instante um dos rapazes que tentava quebra os cadeados disparou dois tiros em direção aos outros estudantes. Para o professor e diretor do Centro de Artes, Humanidades e Letras, Xavier Vatin, esse foi o momento mais critico da paralisação: “Hoje alguém poderia estar morto”.
Os pontos de pautas sempre foram vistos como legítimos pela comunidade acadêmica. Entretanto, os métodos usados para alcançá-los sempre dividiu as opiniões, tanto entre os estudantes como entre os professores. Após este momento de grande aprendizagem para uns e de mera perda de tempo para outros, a mesa de negociação foi reativada e dos 106 pontos de pauta foram negociados apenas 35.
O intuito de melhorar a Universidade não está presente somente nas atitudes dos estudantes, mas também dos docentes, técnicos administrativos e diretores. Isso fica bem claro na fala de Xavier: “Eu acho que nós temos que lutar conjuntamente em determinados momentos, mas a modalidade e forma dessa luta não pode ser a mesma por parte do Reitor, por parte do corpo docente e por parte dos estudantes. São modalidades distintas. Da mesma forma como a nossa Universidade está sendo construída, o movimento estudantil também esta sendo construído.”
Lucas escreveu mesmo isso?
ResponderExcluir