terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Rio Paraguaçu é fonte de trabalho para o ribeirinho e de lazer para turistas

POR ROQUINALDO FREITAS

No período áureo da Companhia de Navegação Baiana, quando os barcos a vapor transportavam mercadorias e passageiros de Salvador à Cachoeira, o Rio Paraguaçu foi o grande elo entre os sertões da Bahia e de Minas Gerais e um dos fatores principais para o crescimento do porto do município de Cachoeira, consequentemente uma das vilas mais importantes e prósperas do país no século VXIII.

O rio foi usado para escoar boa parte da produção agrícola do Recôncavo Baiano, principalmente açúcar e fumo, produtos que são até hoje comercializados no município, em virtude dos aspectos positivos para o plantio na região. O crescimento vertiginoso da comunidade cachoeirana proveu grande importância política à região e a participação ativa na guerra da Independência da Bahia, em 1821, tornando-se base da Junta de Defesa (grupo de resistência contra Portugal). Chegou a ser bombardeada por uma canhoneira portuguesa, fato que conduziu a um levante popular. A embarcação foi cercada por terra e água e os marinheiros sobreviventes dos embates foram capturados, num importante capítulo que antecedeu o grito de independência.

 Alheio a todo o drama corrente e cenário significativo da história, o Rio Paraguaçu remonta à época anterior ao descobrimento do Brasil, quando a região do Recôncavo Baiano era habitada por índios tupiniquins, maracás e cariris. Os indígenas denominavam o rio com o termo “Paraguaçu” que significa "água grande, mar grande, grande rio". O nome dado pelos indígenas é significativo, considerando os seus 600 km de extensão.

Nos idos de 1504, segundo historiadores, os franceses já navegavam por essas águas, mas a sua descoberta é atribuída ao navegador Cristóvão Jacques, comandante da primeira expedição guarda-costas que chegou ao Brasil em 1526 para combater o tráfico de pau-brasil no litoral.  O rio Paragaçu nasce em Morro do Ouro, na Chapada Diamantina, segue rumo ao norte passando pelos municípios de Ibiquara, Mucugê e até aproximadamente cinco quilômetros à jusante da cidade de Andaraí, quando recebe o rio Santo Antônio. Muda de direção em seu curso para oeste e leste, passando pelos municípios de Itaeté,  Castro Alves, Santo Estevão, Cruz das Almas, São Felix, Cachoeira, Maragogipe, dentre outros. Desemboca na Baía de Todos os Santos entre os municípios de Maragogipe e Saubara.

RELEVÂNCIA ESTADUAL

Apesar de ter menor notoriedade do que o Velho Chico (Rio São Francisco), o Paraguaçu é, diferentemente daquele, um rio genuinamente baiano que nasce e desagua no estado. Depois da construção da barragem Pedra do Cavalo ganhou mais destaque no cenário estadual, sendo o responsável pelo abastecimento de água para todo o Recôncavo, Feira de Santana e Grande Salvador.


As águas do Paraguaçu são favoráveis à pesca em todo o seu curso, onde se encontram principalmente tucunarés, traíras e piaus, sendo que no baixo curso encontram-se camarões, robalos e tainhas. O leito do rio é navegável em seu baixo curso, da foz até as cidades de Cachoeira e São Félix, passando por Maragogipe em um trajeto de 46 km. Diante desse contexto socioeconômico e cultural, a importância do Paraguaçu vai além da pesca e da história, muitos pescadores aproveitando do alto índice turístico das cidades irmãs Cachoeira e São Félix, disponibilizam passeios de barco partindo do caís do porto.

O preço do passeio varia de acordo com o tipo de embarcação – barcos a motor com 4-5 lugares até escunas com capacidade para 35-40 passageiros – e o destino. Por exemplo, uma viagem até Maragogipe, estimada em sete horas (ida) custa R$ 40,00, enquanto um passeio até o Engenho da Vitória, de aproximadamente uma hora e trinta minutos de duração, custa R$ 15,00. Ao longo de todo o trajeto os navegantes são agraciados com a beleza das matas ciliares e a descoberta das ruínas arquitetônicas de valor histórico imensurável, entre elas, o Engenho da Vitória e as ruínas do primeiro terreiro de candomblé do Brasil, o Ventura.

O pescador Adélio, 39, há três anos organiza pequenas expedições pelas águas do rio Paraguaçu, indo principalmente até Maragogipe e ao Engenho da Vitória, pontos que se destacam pela maior procura e visitação. Adélio afirma que, independente da estação do ano, o passeio depende única e exclusivamente da maré, porém, a procura é maior durante o verão quando aumenta consideravelmente a incidência turística na região. Afirma ainda que o passeio é seguro e que não encontra dificuldades em fazê-lo por causa da correnteza fraca do rio. 

TURISMO E PRESERVAÇÃO

Seguindo as águas do rio, construções históricas que marcaram época e hoje vivem escondidas em meio à mata atlântica vem à tona. O Engenho da Vitória foi erguido no século XIX e foi o último a encerrar suas atividades por volta de 1940, palco de uma rebelião de escravos que mais tarde formariam um quilombo próximo à cidade de Cachoeira. Suas ruínas abandonadas descansam às margens do Paraguaçu, sofrendo as penúrias do tempo e as adversidades do clima tropical. Atualmente apenas as ruínas de seu exuberante sobrado e os alicerces da construção restaram como lembranças da época passada.  O engenho fica no pequeno povoado de Vitória com algumas casas de pau a pique e uma comunidade que vive da pesca e da agricultura. 

Outro ponto bastante visitado por turistas que navegam pelo Rio Paraguaçu é a cidade de Maragogipe, distante cerca de 133 km da capital, antigo ponto de apoio para as embarcações que saíam de Salvador com destino à Cachoeira transportando mercadorias da até então “Companhia de Navegação Baiana”. Maragogipe fica precisamente no local em que o Rio Paraguaçu encontra com o Rio Guaí, formando uma grande região de lagamar, cercada por manguezais. A cidade ainda é o ultimo ponto náutico do Recôncavo Baiano, possuindo o porto de Cajá que abriga dezenas de canoas e saveiros.

É inquestionável a riqueza cultural, histórica e natural dessas águas, e a importância na vida dos ribeirinhos e pescadores que retiram o seu sustento e de suas famílias das atividades provindas da pesca. Apesar de todos esses fatores, podemos constatar a degradação ambiental sofrida, principalmente nos pontos em que se encontram centros urbanos, com dejetos que desembocam diretamente nas águas do rio.

O Paraguaçu sofre com a poluição, que está relacionada com as queimadas, drenagens e ao lançamento de agrotóxicos. Os problemas da bacia do Paraguaçu e os trechos mais ameaçados pela poluição estão nos afluentes, que não conseguem diluir a carga orgânica. A conscientização ambiental e a preservação do rio Paraguaçu é um dever de todos, tanto do ribeirinho quanto do turista e principalmente da administração publica das cidades que são agraciadas com a passagem de suas águas, fonte de júbilo, palco histórico da luta pela independência e uma atração à parte no turismo local.

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