Esculturas de Doidão Bahia são conhecidas mundialmente

POR PALOMA TEIXEIRA

O artesanato brasileiro é considerado um dos mais ricos do mundo e garante o sustento de muitas famílias. Os índios foram os primeiros a realizar essa atividade, que se manifesta de várias formas, a exemplo de trabalhos com barro, couro e madeira. 

José Cardoso de Araújo é um escultor e pintor nascido em Cachoeira, que há 44 anos desenvolve trabalhos como artesão.  Trabalhou como cabeleireiro, com seus tios, por certo período. Depois, os tios passaram a fazer cachimbos com a casca do cajá – fruta muito encontrada na região do sudoeste da Bahia. Mais tarde, veio a ideia de esculpir também rostos. José, que tinha interesse em seguir os passos dos tios, passou a aprender com eles a arte simples que haviam desenvolvido.

Para fazerem uma de suas primeiras exposições, utilizaram um grande campo que havia na cidade e ali expuseram vinte e dois bonecos. Os mais velhos da cidade acabaram proibindo as crianças de se aproximarem das obras, pois, como as imagens lembravam santos do Candomblé, disseram que aquele era um trabalho de doido. Após essa denominação, José passou a utilizar o nome artístico “Doidão Bahia”.

INSPIRAÇÃO

Depois de alguns anos trabalhando como escultor, começou a fazer o curso livre da escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), com o intuito de aperfeiçoar a técnica. Após uma exposição no Teatro Castro Alves, sua professora o aconselhou a abandonar o curso, receosa de que ele se aperfeiçoasse tanto ao ponto de perder sua essência artística.

Antes de ter o seu próprio ateliê, expôs e vendeu suas obras no Mercado Modelo, em Salvador, por 16 anos. Em 1981 transferiu seu ateliê para a Praia do Forte e permanece lá até hoje. Conheceu o escritor baiano, Jorge Amado, que em um dos seus livros, Bahia, Mystery Land, ilustra a cultura, o folclore e a história da Bahia, citando Doidão. Esse livro foi publicado na França em 1984, por Alain Draeger.

A inspiração para fazer suas obras vem da própria árvore. A raiz é retirada e, dependendo do formato que aparece ele se inspira para fazer suas esculturas. As suas formas são, em grande parte de orixás – semideuses da cultura africana cultuados no Candomblé –, o que acaba atraindo muitos turistas que se interessam pela arte etnológica.

Doidão já viajou por vários lugares para fazer exposições e palestras. Na Bahia, ele tem suas obras expostas em alguns hotéis, como Jardim Atlântica, em Ilhéus, onde o cartão postal é a sereia que foi esculpida por ele. A Pousada do Carmo, em Cachoeira, também conta com algumas obras do escultor. Foi convidado para decorar uma casa noturna na cidade de Málaga, localizada na costa sul da Espanha. E tem uma loja com suas obras na cidade de Manchester, no Reino Unido, noroeste da Inglaterra.

Fez exposições no Rio de Janeiro, São Paulo e Ouro Preto. Recentemente, expôs algumas de suas obras na Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), entre os dias 11 e 16 de outubro de 2011. O artista disse que essa foi uma ótima oportunidade para a população poder “ler” melhor a cidade onde vive. Alguns moradores da cidade se dizem impressionados com as obras do artista. Para eles, trata-se de um trabalho magnífico e que não deveria nunca se perder.

Doidão, que há muitos anos vive de sua arte, afirmou que foi difícil se afirmar no mercado, pois a falta de apoio às artes plásticas era muito grande e até hoje ainda é. De acordo com ele, o eixo na Bahia pra esse tipo de arte ainda não abriu e falta bastante pra isso acontecer, pois os artistas regionais são mais valorizados por turistas do que pela população local.

O Recôncavo da Bahia é uma região que possui uma cultura muito enriquecedora. Doidão Bahia é um dos artistas responsáveis por trazer e manter essa cultura na cidade de Cachoeira. Com muito esforço, ele conseguiu chegar onde todos os artistas desejam: viver de sua arte e ser reconhecido por ela.