Restaurante movimenta economia de Cachoeira com preço solidário

POR CATIA LIMA

A chegada da UFRB em Cachoeira trouxe oportunidade para muita gente de ganhar seu sustento, estimulando a criatividade das pessoas, principalmente no ramo da alimentação. Não há duvidas de que a economia dessa cidade sofreu mudanças  significativas, para o pequeno e grande comerciante deste segmento. Prova disto é o exemplo de dona Miralva, que vive basicamente de servir comida para os alunos da universidade.

Difícil encontrar, entre os alunos da UFRB, quem não conheça ou não tenha ouvido falar dela. Conhecida na região como Miralva, e chamada carinhosamente pelos seus clientes de Mira, essa cachoeirana começou a cozinhar para os alunos, há aproximadamente cinco anos, quando a faculdade ainda funcionava na Escola Estadual de Cachoeira, no bairro da Pitanga, próximo ao arco de entrada da cidade.

Foi um dos funcionários da faculdade quem lhe sugeriu servir almoço aos oitos funcionários que trabalhavam na escola. No começo ela achou que não daria certo, mas a coisa foi crescendo no boca a boca e hoje ela consegue servir de 20 a 30 almoços diários, e gerar dois empregos diretos e outros indiretos.

PRATO DA HORA

Como todo comércio, o restaurante tem os seus altos e baixos. Quando o movimento de paralisação estudantil aconteceu, em setembro, na UFRB, houve um desequilíbrio nas finanças, pegando-a de surpresa. Ela, que já tinha assumido diversos compromissos em compras, acumulou prejuízo, teve que fazer cortes, ficou sem uma funcionária e continua apertando o cinto para equilibrar os 40 dias em que ficou no vermelho.

O almoço tem um apelo quase simbólico, no preço de cinco reais, num prato feito, farto e equilibrado nutricionalmente. Há dias em que, se você der sorte, poderá comer um caruru, mas certo mesmo é comer um cozido aos sábados.  Durante a semana o cardápio é variado em três ou mais opções, que incluem sempre um tipo de carne, arroz, feijão, macarrão e salada, com um suco, de cortesia.


Ela conta que essa relação com os estudantes é uma tradição de família, já que cresceu nesta atmosfera, vendo sua mãe vender pasteis aos alunos do colégio em frente. O medo de a idade chegar e ficar desamparada fez com que, no ano passado, saísse da informalidade e registrasse o seu tão sonhado restaurante. Ela diz que isso foi fundamental para ganhar uma linha de crédito e ter um capital de giro. Na certeza de poder contar com a previdência, ela espera futuramente fazer uma reforma, ampliando o espaço, dar mais conforto aos seus clientes e de fato se tornar um restaurante.

Maiana Brito, aluna do curso de Cinema, conta porque virou habitué do local:

“Quando cheguei aqui, no começo do ano, já tinha uns amigos que almoçavam lá, foi assim que a conheci. Hoje continuo almoçando lá, por diversos motivos: a comida é  boa e o preço também. Em dona Mira, além de ser divertido comer com a galera, existe uma troca de informação cultural e política muito grande, que faz a gente se situar em todos os processos pertinentes à faculdade. Dona Mira é tudo de bom”, conclui.

Enquanto se espera ou termina o almoço, pode-se sentar-se no sofá de dona Miralva e assistir TV, como se estivesse em casa. O ambiente universitário e a interação entre os estudantes de todos os cursos tornam este lugar muito mais importante também do ponto de vista social. É muito comum, por exemplo, encontrar, entre os estudantes mais exaltados, discursos marxistas, discussões sobre o movimento negro e outras questões da política estudantil local. Há uma enorme fomentação no campo das ideias, mas, como em todo lugar em que existem  muitos estudantes juntos, também se falam muitas besteiras, o riso corre solto, e a diversão é sempre o prato da hora.